jeudi 26 mars 2009

Arcadismo ou Neo-Classicismo


Cláudio Manuel da Costa, um dos fundadores do arcadismo mineiro

O Arcadismo, também conhecido como Neoclassicismo, caracteriza-se pela busca de restauração dos ideais de sobriedade e equilíbrio da antiguidade clássica em contraposição aos excessos do período anterior, o Barroco. O movimento é contemporâneo do Iluminismo, corrente de pensamento racionalista que se divulgou pela Europa no século XVIII e que culminou com a Revolução Francesa, em 1789. Associações de letrados como a Arcádia Romana e, mais tarde, a Arcádia Lusitana foram veículos importantes para a propagação do ideário do movimento na Europa. O nome "Arcádia" é inspirado na região lendária da Grécia que representa o ideal de comunhão entre homem e natureza, daí o Arcadismo ter como tema privilegiado o bucolismo, em que a natureza é vista como refúgio último das noções de verdade e beleza.
No Brasil, os poetas que melhor representam o movimento são Cláudio Manuel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga, autor de Marília de Dirceu. Ambos participaram da Inconfidência Mineira, movimento político que visava a emancipação do Brasil em relação a Portugal. Os poemas laudatórios de Basílio da Gama e a produção poética de Alvarenga Peixoto e Silva Alvarenga também apresentam traços típicos do Arcadismo. Todos esses poetas concentravam-se na cidade mineira de Vila Rica, centro da atividade mineradora e mais importante centro urbano do país nesse período. No Rio de Janeiro, nos anos de transição entre os séculos XVIII e XIX, entre uma série de novidades de ordem política e econômica que começam a transformar a fisionomia do país, verifica-se o surgimento de diversos órgãos de imprensa. Nesse momento tardio do Arcadismo, têm destaque as figuras dos jornalistas Hipólito da Costa, fundador do jornal Correio Braziliense, e Evaristo da Veiga, cronista político do Aurora Fluminense.

Os antigos escritores gregos e romanos sintetizam o ideal de harmonia que os autores do período buscavam resgatar. Por isso eles também são conhecidos como neoclássicos. Tida como reduto por excelência do equilíbrio e da sabedoria, a natureza é a temática mais freqüente do Arcadismo. Em grande medida, é possível dizer que a poesia arcádica caracteriza-se por essa busca pelo "natural", ao qual estavam sempre associadas as idéias de verdade e de beleza.

Apesar de ter sido influenciada pela tradição poética do século XVI, cujo nome mais importante é Camões, e de apresentar resquícios do Barroco em certos casos, a poesia arcádica é um modelo de simplicidade e objetividade, se comparada com as obras do período anterior. Exemplos dessa simplificação da linguagem são a valorização da ordem direta, o verso sem rima, a singeleza do vocabulário e a menor incidência de comparações e antíteses – todos fatores identificáveis na produção poética do Arcadismo.

Essa liberdade formal, no entanto, era regida por normas consolidadas e formatos fixos que só começariam a afrouxar a partir do Romantismo. O soneto, por exemplo, era uma das formas mais empregadas, como se pode perceber pela obra de Cláudio Manuel da Costa. Também bastante utilizados eram a ode (composição poética dividida em estrofes simétricas, para ser cantada), a elegia (poesia sobre tema fúnebre) e a écloga (poesia pastoril).

Sem perder a impregnação religiosa nem o respeito à monarquia, os poetas do período abordaram assuntos mais imediatos e concretos do que seus antecessores. Fazem parte de seu universo temático o elogio da virtude civil, a crença na melhoria do homem pela instrução, a noção de que a harmonia social depende da obediência às leis da natureza, e a concepção da felicidade como conseqüência da prática do bem e da sabedoria. Todas essas idéias, em grande medida derivadas do Iluminismo, encontram expressão política na figura do Marquês de Pombal.

Secretário do rei D. José I, Pombal é a face portuguesa do "despotismo esclarecido" que vigorou em certos países da Europa nos séculos XVII e XVIII. Ele promoveu a reforma do ensino na Universidade de Coimbra, a reconstrução da cidade de Lisboa após o terremoto de 1755 e a expulsão dos jesuítas do território da coroa portuguesa. Também foi o maior mecenas das artes do período, o que justifica o apoio de poetas do Arcadismo à sua causa. É difícil compreender um poema como O Uraguai, por exemplo, longe desse contexto. Nessa obra épica, Basílio da Gama louva a política da coroa portuguesa de combate aos jesuítas, que são retratados de maneira impiedosa. Também O Desertor, de Silva Alvarenga, foi composto com o propósito único de cantar loas à reforma do ensino empreendida por Pombal.

O iluminismo pombalino caracterizou também a prosa do período. Ela se manifestava nas formas de sermões, discursos, panfletos e ensaios de jornal. Os escritos teóricos e científicos, em sua maioria produzidos em Portugal sob os auspícios do Marquês, também tiveram influência durante o Arcadismo, como atestam os manuais de poesia de Verney e Freire e os textos sobre a reforma educacional escritos por autores como Antonio Nunes Ribeiro Sanches. A prosa literária, no entanto, atingiu pouca expressão. Uma razão para isso é o fato de que a poesia era então considerada um meio adequado para a discussão de idéias de interesse público. Assim, diversos autores do período manifestaram-se sobre ciência, educação, filosofia, política ou até temas técnicos, como zoologia e mineração, em textos versificados.


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Neo-Classicismo em Portugal

Corrente estética surgida na arte ocidental na segunda metade do século XVIII que retoma os modelos formais do classicismo europeu e da antiguidade greco-romana, assumindo-se como reacção aos excessos estilísticos do barroco e do rococó. A ressurgência revivalista desses modelos fica a dever-se, em grande parte, a um conhecimento mais apurado da arte antiga, através das expedições arqueológicas conduzidas no âmbito ou à margem das campanhas napoleónicas na primeira metade do século. O neoclassicismo estende a sua influência à pintura, à escultura, à arquitectura e à literatura, convertendo-se rapidamente em estilo defendido pelas academias, chegando a confundir-se com a acção normativa destas instituições, na escolha de temas e estilos inspirados nos episódios mitológicos e na exaltação do heroísmo. A literatura deveria servir ideais cívicos, devolvendo-se-lhe uma dignidade que, assim consideravam os seus defensores, fora desdenhada pelo barroco. A recuperação de formas clássicas (a ode, a elegia, a epístola, a sátira, o epigrama, a tragédia, a comédia...), a concepção da arte como imitação da natureza, o ataque ao barroco, são as principais marcas deste movimento. Em Portugal, a implantação do neoclassicismo acompanha a difusão dos ideais iluministas, na sua defesa da razão, necessária para a validação das acções humanas na esfera política, social ou artística. A edição da Arte Poética de Cândido Lusitano, em 1748, assinala a introdução do neoclassicismo em Portugal, que encontraria os seus cultores em Correia Garção, Cruz e Silva e Reis Quita, entre outros.
Trecho de um poema de Du Bocage:
“Meu ser evaporei na lida insana
Do tropel das paixões, que me arrastavaAh!
Cego eu cria, ah!
Mísero eu sonhava
Em mim, quase imortal, a essência humana!”