A teoria literária não é um assunto que interessa aos leitores em geral. Ao ler um romance, poucos são os que preocupam-se com a sua estrutura, com a divisão coerente e progressiva dos capítulos ou com a formação psicológica das personagens.Evidentemente, um leitor não precisa ter este tipo de conhecimento para aproveitar uma obra. Ninguém preocupa-se com a composição da água enquanto bebe, não é?
Estudiosos da
No entanto, conhecimento nunca é demais e neste caso, pode ajudar a formar um senso crítico mais aguçado para os leitores que não contentam-se com qualquer obra de fundo de quintal.
O marco inicial da teoria literária surgiu ainda nos séculos V e IV a.C com as obras de Homero: e Ilíada. Foi a partir daí que percebeu-se que a literatura poderia ser teorizada como uma ciência e, assim, melhorar — e padronizar — sua qualidade
Mas essa teorização inicial não era do tipo que articula conceitos, apresenta análises ou discute métodos, após Homero surgiram diversas outras teorias que serviram a estes fins. Na Odisséia e na Ilíada discutia-se sobre:
- A função da literatura, que era reconstituir com fidelidade as ações dos heróis;
- A origem da literatura, que acreditava-se ser divina;
- A natureza da literatura, que tinha poder de encantamento, todos paravam para ouvir as histórias.
Com Platão e Aristóteles, com sua obra póstuma: Poética, houve então a consolidação da necessidade de teorizar sobre a literatura.
Logo surgiram grupos que apoiavam formas diferentes de análise da teoria literária. Dois deles teorizavam exatamente sobre as formas desta análise:
- Grupo normativo: Defendiam a chamada estética clássica, onde todas as obras devem seguir rigidamente as normas impostas, deve-se teorizar sobre a forma antes de criar o texto.
- Grupo descritivo: Era já um prenúncio da estética romântica, onde o autor é livre para produzir espontâneamente, pelo seu talento e inspirações. Somente após a obra pronta é feita uma análise para enquadrá-la a um gênero literário.
Outros dois grupos teorizavam a respeito da leitura e aproveitamento das obras:
- O primeiro grupo, apoiava a literatura de estudo sistemático, deve-se ler de forma a alcançar um conhecimento profundo e analítico.
- O segundo grupo, defendia que a literatura deveria servir como lazer, fruição. Não deviam ser feitas análises. A literatura não deveria servir como objeto de estudo.
- Séc IV e V a.C: Platão e Aristóteles. Havia indicações normativas, no entanto, havia uma tendêcia descritiva, pois a investigação era feita de forma aberta, sem grandes preocupações com tais normas.
- No segundo momento há uma imposição do tom normativo, a estética clássica persiste por vários séculos.
- Idade Média: O normatismo persiste e surge a oratória como instrumento de imposição e persuasão.
- Fins do séc. XV até séc. XVIII: É redescoberta a Poética de Aristóteles (que é normativa em partes), ela é então novamente estudada e surgem outros teóricos que reforçam seu teor normativo. Elaborada uma junção do conjunto de normas, chamada Preceptística (junção de preceitos).
- A partir do séc. XIX: Surge o Romantismo, onde o tom descritivo tem prioridade. Não há normas: o “criar literário” vem da inspiração e genialidade do autor. O que importa é a impressão que a obra causa no leitor (característica essa, fundamental do Impressionismo.
É uma longa viagem histórica e depararmo-nos com formas de pensar tão opostas é muito interessante.
Com o Romantismo e o tom descritivo da literatura o autor tem muito mais liberdade para criar e aproveitar ao máximo sua imaginação, no entanto, a partir disso surgem obras de uma qualidade péssima e qualquer “pessoa comum” é capaz de entitular-se escritor, cabe a nós leitores julgarmos quem são os verdadeiros artistas.