"Na história de uma língua, as palavras mudam de forma e significado, desaparecem umas e outras novas se incorporam ao idioma. Nenhuma, porém, surge do nada. Na antiga Grécia já se manifestava preocupação com a etimologia, tratada por Platão no diálogo Crátilo.
Disciplina da lingüística histórica, a etimologia pesquisa a origem e a derivação das palavras e freqüentemente lhes revela o significado primitivo. Durante muito tempo, o parentesco entre as palavras se explicava apenas pela semelhança entre elas. Embora incapaz de elucidar sistematicamente a origem das palavras, a etimologia popular tornou-se responsável por algumas formas que ocorrem atualmente.
A etimologia constituiu-se em ciência quando Jacob Grimm descobriu as leis fonéticas de seu próprio idioma e divulgou-as em sua Gramática alemã (1819-1822). Em 1836, Friedrich Christian Diez iniciou a publicação da sua monumental Gramática das línguas românicas, em que estabelece as relações entre as línguas latinas entre si com o próprio latim, por meio de leis fixas de precisão quase matemática. Desde então, a etimologia é uma das áreas mais importantes da lingüística.
Modernamente acredita-se que as leis fonéticas não são tão rígidas como se pensava no curso do século XIX, por influência da ciência e filosofia positivista. Os fenômenos lingüísticos estão sujeitos a desvios impostos por causas externas e de ordem psicológica. Nas pesquisas etimológicas não se pode prescindir das leis fonéticas. Por exemplo, uma lei fonética do português estabelece que a consoante "p" se transforma em "b" quando se acha entre vogais no meio do vocábulo. Assim, do latim lupus e ripa chega-se a "lobo" e "riba" em português. Nesse caso diz-se que houve um abrandamento (ou sonorização), pois o "b" é mais brando que o "p". No francês ouve-se um "v" quando em latim há um "p" na situação indicada: louve e rive correspondem em português a "loba" e "riba". Sob o domínio de outras leis fonéticas, o latim evoluiu, na Gália, para uma língua semelhante ao português mas diferente dele.
O estudo sistemático das leis fonéticas permitiu associar diversas línguas a um mesmo tronco: português, castelhano, provençal, francês, italiano, romeno etc. ao latim; inglês, alemão, sueco etc. ao germânico primitivo; russo, búlgaro, polonês, tcheco, servo-croata etc. ao proto-eslavo, e assim por diante. Chegou-se então a sugerir, o que na atualidade é universalmente aceito, que várias línguas antigas, disseminadas num território que se estendia da Índia à Europa, procediam de um tronco primitivo, denominado indo-europeu, que seria um idioma falado na área geográfica que compreende o oeste da Rússia. Por circunstâncias favoráveis inexplicadas, o indo-europeu foi levado para o sudoeste da China, para a Índia, e para o resto da Europa.
Nem todas as línguas dessa vasta área têm a mesma origem, como o extinto tocariano, falado ainda na China no século VII. Na Europa, o vasconço, o húngaro, o finês e o turco não são línguas indo-européias. Na Ásia, algumas línguas semíticas conseguiram suplantar os dialetos indo-europeus: tal o caso do hitita, que desapareceu totalmente e cedeu lugar, depois de séculos, ao fenício.
O grande progresso dos estudos etimológicos permitiu conhecer a origem da maior parte das palavras da língua portuguesa. Foi traçada a história de cada vocábulo, com as diversas formas que assumiu ao longo do tempo, seus vários significados e as relações com outras palavras, vernáculas ou estrangeiras. Para isso, é importante também determinar o estrato social em que evolui cada palavra. Por exemplo, a palavra portuguesa "lupino" (do latim lupinus) não sofreu as mudanças observadas em "lobo", por ter chegado à língua por via erudita.
As etimologias estudam-se em gramáticas históricas, em dicionários etimológicos ou em trabalhos assistemáticos. Diez publicou em 1853 o primeiro Dicionário etimológico das línguas românicas. Outros, mais completos, ou particulares a determinados idiomas, foram editados depois. Antenor Nascentes é o pioneiro entre os dicionaristas etimológicos de língua portuguesa (1932). José Pedro Machado publicou em dois volumes o Dicionário etimológico da língua portuguesa (1952-1956), em que lançou luz sobre o enorme contingente árabe do léxico português.
As palavras correntes do português são indiscutivelmente latinas, ainda que do latim o português não tenha herdado senão um vocabulário pobre, pequeno cabedal que se expandiu sem perder o cunho originário. Com relação à matriz tupi, obra meritória é o Dicionário histórico das palavras portuguesas de origem tupi (1978), de Antônio Geraldo da Cunha."
EmDiv
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